Escrito por: Fabiano Melo

A descarbonização do setor de transporte é uma das principais estratégias globais para mitigar os impactos das mudanças climáticas e melhorar a qualidade de vida nas grandes cidades. À medida que a população urbana cresce, o transporte público desempenha um papel fundamental na redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e na promoção da saúde pública.

Problemas Ambientais e de Saúde Pública Decorrentes da Poluição Atmosférica

A poluição atmosférica é uma das principais causas de problemas ambientais e de saúde pública em grandes cidades. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 7 milhões de pessoas morrem prematuramente a cada ano devido à exposição a poluentes no ar . Em áreas urbanas densamente povoadas, a poluição do ar é agravada pelo uso massivo de veículos movidos a combustíveis fósseis, que liberam dióxido de carbono (CO₂), óxidos de nitrogênio (NOx), material particulado (PM) e outros compostos prejudiciais.

Além dos efeitos climáticos, esses poluentes têm um impacto direto na saúde das populações urbanas. Estudos da OMS também mostram que a exposição a altos níveis de poluição atmosférica pode causar doenças respiratórias, como asma e bronquite, além de aumentar o risco de doenças cardiovasculares e câncer de pulmão . A gravidade desses impactos sublinha a importância de reduzir as emissões provenientes do setor de transporte, especialmente em grandes cidades.

O Papel do Setor de Transporte na Poluição Atmosférica

O setor de transporte é responsável por 25% das emissões globais de CO₂ relacionadas à energia, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE) . Nas grandes cidades, o uso de veículos particulares e o transporte de mercadorias são grandes contribuintes para esse número. Veículos movidos a diesel e gasolina emitem não apenas CO₂, mas também NOx e partículas finas (PM2.5), que são particularmente prejudiciais à saúde humana.

O aumento do número de veículos nas cidades intensifica o congestionamento e, por consequência, eleva os níveis de poluição. O transporte rodoviário, em particular, é uma fonte significativa de emissões em áreas urbanas, e isso torna essencial a implementação de estratégias que incentivem a mobilidade sustentável e a redução da dependência de carros particulares.

O Impacto do Transporte Público na Poluição

Embora o transporte público seja uma solução essencial para a mobilidade urbana, ele também pode ser uma fonte significativa de poluição se depender de veículos movidos a combustíveis fósseis. Em muitas grandes cidades, os ônibus e trens a diesel ainda são amplamente utilizados, contribuindo para as emissões de gases de efeito estufa. Um estudo publicado pela University of Toronto destaca que veículos pesados, como ônibus a diesel, emitem níveis particularmente altos de NOx e PM .

No entanto, o transporte público tem o potencial de ser um motor de transformação na luta contra as mudanças climáticas. Ao modernizar frotas e adotar tecnologias mais limpas, como veículos elétricos ou movidos a hidrogênio, é possível reduzir drasticamente as emissões. Uma análise do Instituto Internacional de Transporte Limpo (ICCT) mostra que a eletrificação de ônibus em áreas urbanas pode reduzir as emissões de CO₂ em até 30% comparado a veículos movidos a diesel【5†source】.

Soluções Adotadas por Países Desenvolvidos

Diversos países desenvolvidos estão na vanguarda da descarbonização do setor de transporte, especialmente no que se refere ao transporte público. Exemplos de soluções bem-sucedidas incluem:

1. Eletrificação de Frotas de Transporte Público

A Noruega, por exemplo, tem uma das frotas de ônibus mais eletrificadas da Europa. Em 2020, cerca de 60% dos novos ônibus vendidos no país eram elétricos, de acordo com dados do Conselho Norueguês de Transportes Públicos . A eletrificação das frotas de ônibus e trens em grandes cidades está reduzindo significativamente as emissões de carbono.

2. Integração de Sistemas de Transporte

Cidades como Copenhague e Amsterdã investiram em sistemas integrados de transporte público que combinam trens, ônibus e ciclovias. O uso de bicicletas como meio de transporte complementar reduziu a dependência de carros particulares e ajudou a cortar emissões em até 20% em áreas centrais de Amsterdã .

3. Uso de Veículos Leves Sobre Trilhos (VLT)

Veículos Leves sobre Trilhos (VLT), como os utilizados em cidades alemãs e francesas, são uma solução amplamente aplicada. Eles são alimentados por eletricidade, muitas vezes proveniente de fontes renováveis, o que contribui para a descarbonização. De acordo com a Associação Internacional de Transporte Público (UITP), o VLT em cidades como Paris tem um impacto ambiental até 90% menor em comparação com sistemas de transporte baseados em combustíveis fósseis .

Bons Exemplos Adaptados ao Brasil

Os exemplos de países desenvolvidos podem ser adaptados ao Brasil, que possui suas próprias peculiaridades. A eletrificação das frotas de ônibus, por exemplo, é uma solução viável considerando o potencial do Brasil para gerar energia renovável.

1. Eletrificação de Frotas de Ônibus

O Brasil é o segundo maior mercado de ônibus do mundo, e cidades como São Paulo e Curitiba têm feito progressos na eletrificação de suas frotas. Um relatório da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) estima que a eletrificação de 50% das frotas de ônibus urbanos no Brasil poderia reduzir as emissões de CO₂ em mais de 10 milhões de toneladas por ano .

2. Incentivos à Mobilidade Ativa

Cidades como São Paulo têm investido em ciclovias, seguindo o exemplo de países europeus. Embora a integração entre transporte público e bicicletas ainda esteja em seus estágios iniciais, o potencial de redução de emissões com a mobilidade ativa é significativo. Segundo o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), o aumento do uso de bicicletas poderia reduzir o tráfego de veículos em até 30% .

3. Expansão dos Sistemas de VLT

O VLT já é uma realidade no Brasil, com cidades como o Rio de Janeiro e Cuiabá implementando esse tipo de transporte. Estudos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostram que o VLT, quando implementado com fontes de energia renovável, pode reduzir as emissões de GEE em até 50% em comparação com sistemas de transporte convencionais .

O VLT como Exemplo de Descarbonização

O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) é um exemplo claro de transporte público sustentável. Ele é movido a eletricidade, o que contribui para a descarbonização do setor de transporte. O VLT é especialmente adequado para áreas urbanas densamente povoadas, pois oferece alta capacidade de transporte com baixa pegada de carbono. Um estudo da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) indica que o VLT pode ser até 80% mais eficiente em termos de consumo de energia do que os ônibus tradicionais .

Desafios Enfrentados pelo Setor de Transporte Público em Grandes Cidades

Apesar dos benefícios da descarbonização do setor de transporte, há muitos desafios a serem superados. Entre eles estão:

1. Infraestrutura Deficiente

Em muitas grandes cidades brasileiras, a infraestrutura de transporte público é insuficiente ou mal planejada. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45% dos usuários de transporte público no Brasil enfrentam tempos de espera excessivos devido à falta de planejamento adequado e infraestrutura de transporte insuficiente .

2. Altos Custos Iniciais

A eletrificação de frotas e a construção de novas linhas de VLT exigem altos investimentos. Um estudo do Banco Mundial aponta que a transição para uma frota elétrica em uma cidade como São Paulo pode custar até US$ 10 bilhões em investimentos em infraestrutura e veículos . Embora os benefícios de longo prazo superem os custos, a falta de financiamento público e privado pode atrasar a implementação dessas soluções.

3. Desigualdade de Acesso

A desigualdade de acesso ao transporte público é um problema significativo nas grandes cidades brasileiras. Áreas periféricas costumam ter menos opções de transporte e serviços de qualidade inferior, o que agrava os problemas ambientais e sociais. De acordo com a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), 80% das regiões periféricas de São Paulo têm acesso limitado a transporte público de qualidade .

Conclusão

A descarbonização do setor de transporte público em grandes cidades é crucial para enfrentar os desafios ambientais e de saúde pública decorrentes da poluição atmosférica. Embora o transporte público tradicional seja uma fonte de emissões, a eletrificação de frotas e a adoção de tecnologias limpas, como o VLT, podem reduzir drasticamente a pegada de carbono.

O Brasil tem potencial para adaptar muitas das soluções adotadas por países desenvolvidos, como a eletrificação de ônibus e a expansão de sistemas de VLT. No entanto, a falta de infraestrutura adequada e os altos custos iniciais são desafios significativos. Superá-los exigirá um esforço conjunto entre governos, setor privado e a sociedade civil.